segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cinema Português

A exibição das curtas-metragens independentes de um empresário da cidade do Porto, Aurélio Paz dos Reis, marcou o início do cinema português. A Saída do Pessoal Operário da Fabrica Confiança, de 1986, é uma adaptação sua de uma das obras mais conhecidas dos Lumière, A Saída dos Lumière da Fabrica, que é considerado o primeiro filme da história do cinema, e ao mesmo tempo, o primeiro documentário.

Após não obter resultados esperados nos seus espectáculos, Paz dos Reis, tenta o Brasil, apesar de ser o responsável pelas primeiras imagens animadas no Brasil e da exibição dos seus filmes, regressa desiludido.

O interesse de Paz dos Reis pelo cinematógrafo provém do conhecimento de Edwin Roubsy, um fabricante inglês de máquinas de filmar e projectar, o mesmo a quem o George Méliès comprou um projector que ele próprio transformou em máquina de filmar. Influenciado por esta mesma personagem que Manuel Maria da Costa Veiga se tornou exibidor de filmes em Lisboa. Paz dos Reis e Costa Veiga, então, fundam em Portugal essa tradição.

No inicio do século XX, nasce em Portugal a primeira ficção cinematográfica, um curta-metragem de, 1907, filmada pelo fotografo lisboeta João Freire Correia e realizada por Lino Ferreira, “O Rapto de uma Actriz”. Com este filme, inicia o primeiro Ciclo de Lisboa. Em 1902, funda, no Porto, a Invicta Film que se destacou um pouco mais tarde na história do cinema português, estabelecendo uma alternância entre Lisboa e o Porto na liderança da produção nacional, até o surgimento do filme sonoro.

Em 1909, a Portugália Film, empresa de João Freire Correia, começa a produzir documentários que obteve sucesso pela curiosidade que o género despertava, no entanto, acaba por investir em filmes de ficção. “Os Crimes de Diogo Alves”, filme falado de João Tavares em 1911, faz enorme sucesso. A grande aceitação da velha história dos bandidos de Lisboa instala-se a marginalidade como tema recorrente do cinema português.

O primeiro filme histórico surge com “Rainha Depois de Morta, Inês de Castro” em 1910, de Carlos Santos e depois de várias produções do género, fecha-se o Ciclo de Lisboa.

A década de 50 anuncia mudanças, sendo, no entanto, um período de estagnação. O primeiro sinal de mudança é dado por Manuel Guimarães que, com uma vertente neo-realista, opta por oferecer aos espectadores o lado mais cru das coisas. Manuel Guimarães que se assumiu na convergência da tradição realista, acentuará a nota vanguardista no seu suposto neo-realismo, que nunca o chegou verdadeiramente a ser, pelo menos, tanto quanto ele desejava que tivesse sido. “Nazaré”, filme de 1952, de sua autoria foi ferozmente censurado. Realismo sim, mas de boas maneiras.

A RTP, que foi criada em 1955, teve um papel importante na divulgação dos clássicos, na mudança dos hábitos de consumo de conteúdos fílmicos e, especialmente, quando abre as suas portas à produção externa depois de 1974. Fernando Lopes, influenciado pelo realismo italiano e pela vanguarda francesa, filma "Belarmino", em 1964, "António de Macedo Domingo à Tarde", em 1965, ambos os filmes produzidos por António da Cunha Telles. Enquanto produtor, Cunha Telles teve um papel significativo na história do cinema português, ao tentar criar condições de auto-suficiência na produção de filmes e conciliar cinema de arte com cinema de grande público.

A década de 70 foi marcada pelo amplo recurso a uma inovação técnica com origem nos anos 60, o uso de máquinas de filmar de 16 mm com capacidade de gravação de som sincronizando com a imagem. Estas câmaras revolucionaram não só as técnicas como também a própria linguagem cinematográfica, permitindo grande agilidade na filmagem e a possibilidade de reduzirem consideravelmente os custos de produção. A abordagem de temas que seria bem mais complexa com câmaras de 35 mm torna-se mais fácil. Isso contribui de um modo decisivo para que alguns cineastas portugueses optem pela prática do chamado cinema directo, explorando temas que até então tinham escapado ao olho da objectiva.

A Revolução dos Cravos a 25 de Abril de 1974 foi decisiva para o futuro do cinema português, quer pelas liberdades que introduziu nas práticas sociais e culturais quer pelo papel que a RTP desempenhou na produção e difusão de obras cinematográficas nacionais, principalmente, na área do documentário. Como consequência directa da revolução foram criadas no IPC (Instituto Português de Cinema) as Unidades de Produção, que, usando os meios técnicos de produção e pós-produção disponibilizados pelo IPC e funcionando com um espírito colectivista, teve como finalidade garantir a actividade dos profissionais de cinema, ilustrar as transformações radicais com que o país se confrontou, fazê-las chegar a locais onde nunca chegaram, educar e agitar politicamente as consciências. Um dos exemplos representativos do movimento é o filme colectivo "As Armas e o Povo", produção do Sindicato de Trabalhadores do Cinema e Televisão. Os filmes de ficção e com uma vertente documentaria, tocados por esse espírito ou pelo simples desejo de renovação, marcaram o início de uma nova época, apostada no cinema militante. O produtor e director de produção Henrique Espírito Santo teve um papel importante neste período.

Os anos oitenta foram, na história do cinema em Portugal, uma década reveladora. Anos de ouro, pelo volume de produções, pela novidade e diversidade nas formas e nos conteúdos, mas também por essas produções prefigurarem consequências das transformações ocorridas e do trabalho desenvolvido na década anterior, como resultado da Revolução dos Cravos.

Os anos seguintes da década de oitenta caracterizam-se pela continuação de tendências como estas, pela intervenção de cineastas mais jovens e pela aposta feita por Paulo Branco e pelos agentes culturais em Manoel de Oliveira, que se torna cineasta oficial, filmando desde “Amor de Perdição”, em 1978, ao ritmo de cerca de um filme por ano.

A década de oitenta assiste a sucessos de bilheteira. Um dos grandes é “O Lugar do Morto”, em 1984, de António Pedro Vasconcelos. A obra de José Fonseca e Costa, “Kilas, o Mau da Fita”, de 1980, e “A Mulher do Próximo”, de 1988 será marcante por essa mesma razão e, mais ainda, por ilustrar a opinião de certos cineastas que defendem a necessidade em Portugal de um cinema de grande público, visto por eles como indispensável para a simples existência ou sobrevivência de uma indústria nacional de cinema.

Em termos de reconhecimento internacional, são no entanto as obras de António Reis, de Manoel de Oliveira, de João César Monteiro, de José Álvaro Morais ou até mesmo de João Botelho que mais se fizeram notar.

A primeira década do século XXI é caracterizada por uma primeira fase, entre 2000 a 2005, em que predominaram filmes de autor, acentuando tendências experimentais, apostando em motivos ousados, em que se desvela injustiças sociais, filmes que revelam alguma inquietação pelo evoluir da situação que afecta o país e as mentalidades. Nesses primeiros cinco anos, alguns desses filmes transpuseram fronteiras, marcando presença em festivais importantes, foram exibidos comercialmente nalgumas salas independentes, não só em França como era habitual, e acabaram por merecer as atenções de novos críticos.

Actualmente a situação alterou-se radicalmente com o aparecimento, a partir de 2005, de filmes comerciais cujo público-alvo, as audiências habituais das telenovelas, quem se habituou a gostar de histórias cor-de-rosa, a seguir intrigas escabrosas ou fait divers mediáticos, a assistir ao folhetim diário da vida de figuras públicas que os jornais ou televisões elegem e lançam no “mercado de massas” só por isso ser coisa rentável. Em suma, a televisão invade o cinema, investe em produções em que figuram vedetas do pequeno ecrã e outras que enchem o grande com as suas características físicas, com exposição crua em cenas de sexo explícito. O estratagema resulta, o alvo é atingido e quase todos filmes se tornaram sucessos de bilheteira.

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